25 de abril de 2017

A Geologia e a Cidade

 

Há muito tempo se tem dito (pelos geólogos especialistas no campo Urbano) que a mais radical intervenção modificadora do homem no meio físico natural é a cidade.
É uma intervenção antrópica radical que elimina a vegetação natural, impõe desequilíbrios geotécnicos por escavações, cortes, aterros e obras subterrâneas, impermeabilização com aumento de escoamento superficial e redução de infiltração de águas pluviais, alterações climáticas locais etc. Ao mesmo tempo requer uma série de insumos básicos: disponibilidade de áreas para crescimento urbano, agregados para materiais de construção civil, água superficial e subterrânea, terras para produção agrícola hortifrúti, áreas para lazer e funções ambientais, áreas próprias para disposição de resíduos e locação de cemitérios, áreas especiais para instalação de aeroportos, portos, distritos industriais etc.
Embora o conhecimento intenso da geologia urbana e as ferramentas técnicas tenham sido disponibilizadas pelos geólogos e geotécnicos aos gestores municipais para seu correto uso, as cidades brasileiras insistem em desconsiderar quase por completo suas relações com o meio geológico físico, advindo daí uma série de problemas (ou tragédias): enchentes, deslizamentos, perda de mananciais superficiais e subterrâneos, degradação precoce da estrutura urbana, acidentes em obras civis, direcionamento de crescimento urbano para áreas de risco etc.
Esses problemas, por mais imperceptíveis que possam parecer, determinam custos financeiros altíssimos para a administração pública e para os negócios privados.
Cada cidade tem suas características geológicas diferentes e estas devem ser levadas em conta sempre que uma obra de pequena, média ou grande magnitude for executada.
Os tres poderes são intrinsecamente responsáveis pelos cuidados que devem ser tomados para que a solução destes problemas passem sempre por estudos, planejamento, orientação e monitoramento das questões urbanas associadas ao meio físico geológico, com uma equipe ajustada e competente para tal fim.
Casos típicos são as constantes enchentes na orla de Santarém ou nos deslizamentos em Miritituba, o precário abastecimento d'água, a (in)disposição correta dos resíduos sólidos e a ampliação de loteamentos verticais nesta região.
Este (novo) campo de atuação - Geologia Urbana - demonstra que há necessidade de se conhecer e aplicar a história geológica e os comportamentos geotécnicos, em sua complexidade e permanente dinamismo, considerando o que determinou no passado, o que determina no presente e o que determinará no futuro fisiográfico da região que vai interagir com a cidade que lhe é sobreposta.

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Fotos do autor e de blogueiros tapajônicos.
Texto baseado na obra "Cidades & Geologia", de Álvaro Rodrigues dos Santos.

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